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Carta ao primeiro-ministro de Portugal

As cidadãs e os cidadãos abaixo-assinados manifestam a sua preocupação quanto à posição do Estado Português no Conselho Europeu de hoje. Tem o primeiro-ministro declarado que, mesmo perante a grave crise humana que se vive na Grécia, a política de austeridade prosseguida se deve manter inalterada. Os factos têm evidenciado que este caminho é contraproducente.

Não temos dúvidas de que a Europa vive uma situação difícil, pelas tensões militares na sua periferia e pelos efeitos devastadores de políticas recessivas que geraram desemprego massivo, o aumento do peso das dívidas soberanas e deflação, abalando assim os alicerces de muitas democracias. Este momento exige por isso uma atitude construtiva, que conduza a uma cooperação europeia de que Portugal não se deve isolar.

Para evitar uma longa depressão, a União tem de combater a incerteza na zona euro e, para tanto, precisa de uma abordagem robusta que promova soluções realistas e de efeito imediato. O momento atual oferece uma oportunidade que não pode ser desperdiçada para um debate europeu sobre a recuperação das economias e das políticas sociais dos países mais sacrificados ao longo dos últimos seis anos.

É por isso também do interesse de Portugal contribuir ativamente para uma solução multilateral do problema das dívidas europeias reduzindo o peso do serviço da dívida em todos os países afetados, que tem sufocado o crescimento económico, agravando a crise da zona euro. Pela mesma razão, é ainda necessário que Portugal favoreça uma Europa que não seja identificável com um discurso punitivo mas com responsabilidade e solidariedade, que não humilhe estados-membros mas promova a convergência, que não destrua o emprego e as economias mas contribua para uma democracia inclusiva.

Estamos certos, senhor primeiro-ministro, de que agora é o tempo para este apelo à responsabilidade numa Europa em que tanto tem faltado o esforço comum para encontrar soluções para uma crise tão ameaçadora.

Adriano Pimpão, Ana Rita Ferreira, António Bagão Félix, António Franco, António Sampaio da Nóvoa, Carlos César, Diogo Freitas do Amaral, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Paz Ferreira, Fernando Melo Gomes, Francisco Louçã, Francisco Seixas da Costa, Helena Roseta, Lídia Jorge, João Cravinho, José Pacheco Pereira, José Maria Castro Caldas, José Reis. Manuel Carvalho da Silva, Manuela Silva, Maria Mota, Mariana Mortágua, Mónica Bettencourt Dias, Paulo Trigo Pereira, Pedro Adão e Silva, Pedro Lains, Ricardo Bayão Horta, Ricardo Paes Mamede, Ricardo Cabral, Octávio Teixeira, Viriato Soromenho Marques, Vítor Ramalho

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publicado às 22:43

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   Opinião

  João Vieira Pereira  

  Expresso Diário

  11 de Fevereiro de 2015

 

O erro de Maria

Antecipar o pagamento de 14 mil milhões ao FMI é um erro. E pode ser crasso.
A pressa é inimiga da perfeição. Maria Luís Albuquerque quer mostrar que não somos a Grécia. Que nesta altura conturbada até há um país que não só consegue pagar, mas que o faz mais cedo do que é necessário. Para o fazer tem que substituir essa dívida por nova, contraída no mercado. Pelo caminho diz ainda poupar 130 milhões em juros.

 

Numa primeira análise este movimento é correto. Imita a Irlanda e tenta afastar, de uma vez por todas, a ideia de que Portugal está a par da Grécia. 

 

Mas será assim? Eis as minhas dúvidas.


 

1 - Os investidores sabem há muito que Portugal não é a Grécia. As taxas de juro assim o demonstram. Apesar do aumento dos últimos dias ,as taxas portuguesas estão longe do aumento exponencial que as gregas tiveram. Há um ano as obrigações portuguesas a 10 anos registavam taxas de 5%. Hoje estão nos 2,38%, as gregas perto dos 11%. E se compararmos maturidades mais baixas a diferença ainda é maior. As obrigações portuguesas a 3 anos estão nos 0,786%, as gregas estão nos 18,1%! Ainda hoje Portugal colocou dívida a 10 anos com os juros a baterem um novo mínimo histórico.


 

2 - Mas e se a Grécia sair do euro? Cada dia que passa, sem acordo à vista, maior essa probabilidade. Se houve um “Grexit” qual vai ser o impacto? Quando a crise rebentou, em 2011, o Governou tentou desesperadamente dizer que não éramos a Grécia. Não foi possível. Os mercados levaram todos por igual. Ninguém no seu perfeito juízo pode dizer que tudo está controlado. Um governo deve ter sempre um plano B. Antecipar pagamentos e ficar sem almofada não é a coisa mais prudente a fazer nesta altura.


 

3 - Por último. Substituir o FMI pelo mercado pode ser um bom negócio, mas só a curto prazo. A poupança em juros é considerável. E o governo toma esta decisão no mesmo mês em que decide reduzir as taxas dos juros. Mais um erro inacreditável. Em vez de poupar 130 milhões com o pagamento antecipado, teria sido mais inteligente manter as taxas de juro dos certificados mais altas e atrair poupança privada. Portugal tem um elevado nível de dívida, grande parte dela detida por entidades externas, que levam todos os anos 7 mil milhões de juros de riqueza gerada em Portugal. Ao canalizar parte dessa dívida para poupança dos portugueses, todos ganham. Diminui a necessidade de ir ao mercado; permite que uma parte dos elevados juros que são pagos fiquem cá dentro, distribuídos às famílias portuguesas; e diminui os impactos negativos de uma qualquer crise de dívida pública.

 

EM VEZ DE POUPAR 130 MILHÕES COM O PAGAMENTO ANTECIPADO, TERIA SIDO MAIS INTELIGENTE MANTER AS TAXAS DE JURO DOS CERTIFICADOS MAIS ALTAS E ATRAIR POUPANÇA PRIVADA

 

Há legislativas este ano e o Governo quer mostrar a todo o custo que conseguiu o que era considerado impossível. Mas é preciso pensar além do curto prazo. Há vida para além das eleições.

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publicado às 11:37


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José Cardoso Pires escreveu, em adenda de Outubro de 1979 ao seu «Dinossauro Excelentíssimo»: "Mas há desmemória e mentira a larvar por entre nós e forças interessadas em desdizer a terrível experiência do passado, transformando-a numa calúnia ou em algo já obscuro e improvável. É por isso e só por isso que retomei o Dinossauro Excelentíssimo e o registo como uma descrição incómoda de qualquer coisa que oxalá se nos vá tornando cada vez mais fabular e delirante." Desafortunadamente, a premunição e os receios de José Cardoso Pires confirmam-se a cada dia que passa. Tendo como génese os valores do socialismo democrático e da social democracia europeia, este Blog tem como objectivo, sem pretensão de ser exaustivo, alertar, com o desejável rigor ético, para teorias e práticas que visem conduzir ao indesejável retrocesso civilizacional da sociedade portuguesa.

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