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Elogio e autojustificação de Gaspar

 

Na sua crónica semanal no Expresso, Nicolau Santos, director-adjunto do semanário, continua a ser uma das raras vozes que mantém a lucidez e a independência de espírito e de opinião que vão rareando na comunicação social de âmbito económico e financeiro. O texto publicado no passado dia 22 de Fevereiro, não é o primeiro nem por certo será o último que aqui transcrevo com um grande obrigado a um jornalista que honra a sua profissão, a um economista que se mantém fiel os seus princípios.

Rui Beja

 

 

Vítor Gaspar por Maria João Aillez é um livro sobre um alto funcionário europeu que salvou da bancarrota um país que nunca percebeu. E trata do elogio - "a modéstia não faz parte das minhas qualidades" - e autojustificação de Gaspar perante a devastação social que resultou da política que aplicou com fervor.

 

1) "O programa de ajustamento português, de modo geral, foi, em meu entender, muito bem-sucedido". disz Gaspar. Refere-se seguramente à redução rápida do desiquilíbrio externo, ao excedente da balança comercial, à descida das taxas de juro, ao regresso da República aos mercados, ao aumento do peso das exportações no PIB, à redução da despesa pública e aos recentes sinais de recuperação da atividade económica. Gaspar omite o outro lado do "sucesso". Mais de 700 mil desempregados oficiais, 1,4 milhões na totalidade. PIB ao nível de 2001. Cerca de 250.000 emigrantes desde 2011. Mais de 2,7 milhões de pessoas a viver no limiar da pobreza. 660 mil famílias que não conseguem pagar os empréstimos à banca. Mais de 14 mil pessoas nas cadeias, um recorde. O país desceu três posições no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Redução drástica de todos os apoios do Estado.

 

 2) Face à sucessiva redução das metas para o défice, Gaspar recusa aceitar que se enganou, que previu mal, que errou. "Não vejo nenhuma razão para não dizer simplesmente: os limites iniciais do programa não foram cumpridos". É uma linha de argumentação notável mas falaciosa. Um objetivo que não se cumpre é um falhanço. Ponto.

 

3) Gaspar diz que nunca houve incumprimento e muito menos incumprimento repetido porque "as metas iniciais do programa foram sempre renegociadas antes do momento em que o seu incumprimento se colocaria". Extraordinário! Quando for evidente que não se vão cumprir as metas, mudam-se as metas! É o método de ganhar o Euromilhões no sábado.

 

4) O desemprego é a "suprema preocupação e a prioridade máxima", diz Gaspar. Desculpe? Em que ponto do programa de ajustamento é que está inscrita essa preocupação? E será que Gaspar se lembra que negou repetidamente que houvesse um estrangulamento do crédito às PME, que levou milhares delas à falência?

 

5) A recusa da descida da TSU, financiada pelo aumento das contribuições dos trabalhadores, continua a surpreender Gaspar: "a grelha de leitura parecia saída de um documento socialista do séc. XIX". É a prova mais evidente da insensibilidade política de Gaspar.

 

6) Gaspar considera insultuosa a ideia de ser encarado como o quarto elemento da troika. Mas depois diz que "os nossos interesses estão, no fundamental, completamente alinhados com os deles". Ora, se os interesses estão alinhados, é plausível admitir que fomos dirigidos por uma troika... de quatro.

 

7) E é por isso que, como Maria João Avillez reconhece, Gaspar "fazia parte do 'clube', nunca deixou de o frequentar, guardou amigos. Em certa medida - ou em toda a medida? - era de 'lá'. Nós não sabíamos mas a Europa sabia. E não o iria perder de vista no Terreiro do Paço". A Europa mandou para cá alguém para garantir que seria aplicado sem hesitações e mesmo com entusiasmo o remédio que nos prescreveu. Foi isso que Gaspar fez. Porque é do 'clube'. Porque pensa como eles. E por isso o 'clube' vai agora ajudá-lo a arranjar um emprego, onde se ganhe bem e não se pague impostos, onde as reformas não sejam cortadas e onde nunca possamos dizer dele o que disse de nós: que vive acima das suas possibilidades.

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publicado às 23:36

Caíu o mito do rigor germânico 

 

Embora não se trate de mais do que uma pequena amostra da mistificação criada à volta da superior capacidade e rigor da "raça ariana", vale a pena para memória futura e uso pesente, deixar aqui nota do que está a acontecer com algumas obras faraónicas  projectadas e em concretização desastrosa pelos "mestres do rigor orçamental".

Na Visão do passado dia 20, João Dias Miguel introduz o tema com o seguinte preâmbulo:

As grandes obras públicas germânicas também derrapam - e muito. Os caso não faltam e o novo aeroporto de Berlim é um exemplo de incompetência, má gestão e ausência de planeamento. Há quem já se interrogue se o estado federal pode realizar grandes projectos.

Do texto longo e circunstanciado são respigadas as seguintes 'caixas':

ESTAÇÃO DE COMBOIOS DE ESTUGARDA 21 - Desvio orçamental: € 2 400 milhões; Data Prevista: 2021; Problemas: A obra é detestada pelos locais, que já fizeram manifestações massivas contra ela. Vai dar cabo de um parque (300 árvores centenárias destruídas) e proongará o caos do tráfego por uma década. A sua utilidade é duvidosa: a empresa de caminhos de ferro alemã admite que só vai acabar porque parála seria mais dispendioso.

NOVO AEROPORTO DE BERLIM - Desvio orçamental: € 3 400 milhões; Atraso: 5 anos; Problemas: Portas automáticas e elevadores que não funcionam, protecção antifogo completamente inadequada, maus posicionamento das entradas e saídas de ar condicionado, subestimação da presença próxima de um reactor nuclear experimental,. Os técnicos nem sequer conseguem apagar-lhe a luz de forma que está iluminado 24 horas por dia.

TÚNEL FERROVIÁRIO DE LEIPZIG - Desvio orçamental: € 388 milhões; Atraso: 4 anos; Problemas: nenhuns. Os taxistas queixaram-se da descida dos seus lucros, mas o túnel tem-se revelado útil, apesar dos atrasos.

AEROPORTO KASSEL-CALDEN - Desvio orçamental € 205 milhões; Inauguração 2013; Problemas: este aeroporto situado no centro do país, tem 140mempregados, dá 6 milhões de euros de prejuízo por ano e nem uma única carreira comercial ali passa - a não ser os meses de Verão, e mesmo então são poucas.

METRO DE COLÓNIA (NORTE-SUL) - Desvio orçamental: € 800 milhões; Atraso: 10 anos; Problemas: O túnel colapsou em 2009 (dois mortos) levando consigo parte do arquivo histórico da cidade. O acidente custou mil milhões de euros. As responsabilidades continuam por apurar. A catedral de Colónia, património da humanidade, vibra.

FILARMÓNICA DO ELBA - Desvio orçamental: € 712 milhões; Atraso: 10 anos; problemas: Hamburgo não se poupou a luxos, os piassabas custaram 300 euros cada. A obra esteve parada um ano, depois da estabilidade do telhado ter sido posta em causa, este teve de ser reforçado.

Tudo boas razões para nos dizerem que andamos a gastar acima das nossas possibliddes e, com a conivência de quem nos (des)governa, imporem o nosso empobrecimento.

Rui Beja

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publicado às 22:43

Recomendações do Governo para o pico da gripe:

‘Lavar bem as mãos e espirrar para o pensionista’

 

 

Com a aproximação do pico da gripe, o Governo acaba de lançar um conjunto de recomendações de saúde. Entre elas, o Governo recomenda que se lave sempre muito bem as mãos e que se espirre para o pensionista.


«Não espirrem, como se recomendou no passado, para o braço, pois está provado que podem lixar o braço. Espirrem sempre para um pensionista. Se não tiverem um pensionista à mão, então espirrem para um funcionário público. Se tiverem os dois à frente, tentem dividir o espirro. Se não tiverem nem um pensionista nem um funcionário público à mão, então pronto, espirrem para o braço», pode ler-se no comunicado do executivo. 

IMPRENSA FALSA (publicado por Zé Pedro Silva)

 

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publicado às 09:39

TotoFisco

07.02.14

 

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publicado às 09:27

 Carta aberta a João Vieira Pereira

     Poderia escrever-lhe um e-mail comentando este seu insensato texto como fiz em 15 de Setembro de 2011 relativamente ao também seu despudorado artigo 'Deixem os técnicos trabalhar', ao qual me respondeu com um desprezível "...Águas passadas não movem moinhos. Está na altura de libertarmo-nos dos fantasmas do passado que tiveram o seu papel...". Poderia igualmente escrever uma carta ao director do Expresso, que não seria a primeira, mas que teria o tratamento habitual: caixote do lixo.
     Por isso optei por esta carta aberta. Não porque o seu comportamento de 'menino snob' alcandorado não sei devido a que engenho e arte a director-adjunto do Expresso e director da Exame me mereça o mínimo dos mínimos de consideração, mas porque me sinto compelido a expressar pública e abertamente o desprezo que merece quem utiliza meios de comunicação alegadamente respeitáveis, e que face às funções que exerce lhe deveriam merecer respeito, para induzir as suas teorias ultraneoliberais arregimentando e confundindo os seus concidadão mais novos por via da deturpaçãoo dos factos e da ofensa à honorabilidade dos mais velhos, e seguramente mais respeitáveis do que um imberbe jornalista que não há muito deixou de usar cueiros.
     Neste seu texto, argumentando em favor do genocídio administrativo da geração que aguentou o peso da ditadura, sofreu os horrores da guerra colonial, e abriu caminho para a liberdade e o desenvolvimeto económico e sociocultural conquistados em Abril de 1974, tem o desconcerto de escrever com o mais provocador cinismo: "Esta semana um ex-funcionário público, reformado, gente boa e muito bem reformado gritava por justiça nas televisões. Ele que recebeu o seu salário durante 35 anos pago pelo Estado diz agora que é credor desse mesmo Estado porque durante anos descontou para isso. Diz que é credor dos impostos que vão ser pagos no futuro. Pela sua lógica talvez até seja credor dos investimentos internacionais que durante décadas emprestaram dinheiro ao Estado, dinheiro esse que muito possivelmente foi usado para pagar o seu salário. E mais. Esse professor universitário reformado estava indignado por lhe tirarem dinheiro que era dele por direito para que o entregassem aos credores internacionais. Só faltou acrescentar: esses bandidos que nos exploram!"
     Tenha decoro, João Vieira Pereira. Você tem obrigação de saber, mesmo que seja um economista de aviário, que os reformados têm direito à reforma corespondente aos descontos que fizeram. Você sabe, mesmo que seja um economista de trazer por casa, que os impostos pagos e o dinheiro emprestado ao Estado não se esgotam no pagamento de salários dos funcionários públicos e dos pensionistas, são também investidos em infraestruturas e equipamentos imprescindíveis para o desenvolvimento futuro. Você sabe, por mais que queira esquecer-se, que muitos dos credores que agora nos apertam o garrote usaram, e continuam a usar, práticas financeiras reprováveis e violadoras dos mais elementares princípios éticos e legais. Você sabe, por mais que o sapato lhe descaia para a chinela, que ao ofender os mais velhos está a ofender os seus ascendentes e a criar um anátema insuportável sobre tantos e tantos reformados que são o amparo de filhos e netos neste momento de crise.
     Este seu texto, João Vieira Pereira, é simplesmente LIXO ENBRULHADO EM LIXO!
Rui Beja

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publicado às 02:20


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José Cardoso Pires escreveu, em adenda de Outubro de 1979 ao seu «Dinossauro Excelentíssimo»: "Mas há desmemória e mentira a larvar por entre nós e forças interessadas em desdizer a terrível experiência do passado, transformando-a numa calúnia ou em algo já obscuro e improvável. É por isso e só por isso que retomei o Dinossauro Excelentíssimo e o registo como uma descrição incómoda de qualquer coisa que oxalá se nos vá tornando cada vez mais fabular e delirante." Desafortunadamente, a premunição e os receios de José Cardoso Pires confirmam-se a cada dia que passa. Tendo como génese os valores do socialismo democrático e da social democracia europeia, este Blog tem como objectivo, sem pretensão de ser exaustivo, alertar, com o desejável rigor ético, para teorias e práticas que visem conduzir ao indesejável retrocesso civilizacional da sociedade portuguesa.

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2012-05-09 A Edição em Portugal (1970-2010) A Edição em Portugal (1970-2010): Percursos e Perspectivas (APEL - Lisboa, 2012). À Janela dos Livros capa À Janela do Livros: Memória de 30 Anos de Círculo de Leitores (Círculo de Leitores/Temas e Debates - Lisboa, 2011) Risk Management capa do livro Risk Management: Gestão, Relato e Auditoria dos Riscos do Negócio (Áreas Editora - Lisboa, 2004)

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