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Inevitavelmente!

Aníbal Cavaco Silva perdeu, com o discurso feito na Assembleia da República em 25 de Abril de 2013, o mínimo de credibilidade política e independência institucional que lhe pudesse restar, contradizendo-se e colando-se inexoravelmente à desastrada política ultraneoliberal do incompetente (des)Governo que obstinadamente prossegue na via da submissão aos ditâmes do capital financeiro à custa do rápido empobrecimento do país e dos portugueses

  

 
Afirmar que «...se prevalecer uma lógica de crispação política em torno de questões que pouco dizem aos portugueses, de nada valerá ganhar eleições, de nada valerá integrar o Governo ou estar na Oposição», é negar os princípios básicos da democracia política e afrontar os portugueses para os quais as questões que pretende desvalorizar dizem muitíssimo; porque estão em sítuação social e financeiramente crítica, porque tiveram de abandonar o seu país, porque não se acobardam à vontade de uma qualquer senhora Merkel, ou simplesmente porque não estão na disposição de serem cobaias do "experimentalismo louco" dos  "senhores Passos" e dos "senhores Gaspares".
 
Afirmar a «...minha profunda convicção de que Portugal não está em condições de juntar uma grave crise política à crise económica e social em que está mergulhado. Regrediríamos para uma situação pior do que aquela em que nos encontramos», é, no mínimo, chocante para os que, não tendo memória curta, não se esquecem que quem agora profere estas grandiloquentes palavras em defesa da estabilidade política, não teve o mínimo pejo em nada fazer para evitar, e tudo ter procurado para provocar, a grave crise política que levou ao chumbo do PEC IV e colocou no poder os (des)governantes que agora temos.
 
Não faltam os "papagaios" que na comunicção social e na blogosfera querem "tapar o sol com uma peneira", pretendendo que esta componente primordial do discurso passe despercebida e tentando valorizar algumas generalidades ditas para confundir a mensagem essencial. Não vale a pena insistirem. Os portugueses não andam todos distraídos, nem deixam que os "tomem por parvos".
 
Se a situação de Portugal já era grave, só piorou com este discurso. Deixou de haver, nem que fosse apenas teoricamente, uma entidade de último recurso, independente, acima do (des)governo que temos.
 
Rui Beja

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publicado às 23:30


4 comentários

De TACO a 03.05.2013 às 09:28

A gravidade da questão justifica ação legal condizente. Cavaco Silva passou as marcas da democracia. Por senilidade, por doença, ou, simplesmente porque "se assumiu" contrário aos princípios de um regime democrático.

Claro e preciso, atente-se no que escreveu Pedro Adão e Silva no «Expresso» do passado dia 27/4:

"...Até hoje nunca tínhamos tido um Presidente da nossa República a desvalorizar de forma tão veemente as eleições, as escolhas políticas e o papel das divergências em democracia. Podemos discordar das opções programáticas dos outros, mas não podemos, em caso algum, condicionar a soberania popular conquistada há 39 anos. A mensagem foi clara: as eleições não interessam, o que conta é o cumprimento do memorando; as ideologias são perigosas, o que importa é o tratado orçamental. Que um dirigente partidário, oportunisticamente, faça um discurso desta natureza, é expectável. Que a mais alta figura do regime lhe dê peso institucional é um prenúncio de que nos aproximamos do fim."

Isto é claro, verdadeiro e da maior gravidade. Se houver lei que contemple a situação de impedimento de exercício do cargo por motivos de interesse nacional, quem de direito deve acionar os mecanismos adequados.

De Rui Beja a 03.05.2013 às 10:22

Também podemos ver a coisa pelo prisma em que Baptista Bastos a coloca, na crónica «O Discurso» publicada no Diário de Notícias Online de 1Mai2003:

Um alarido inusitado, por injustificável, envolveu o discurso do dr. Cavaco nas cerimónias oficiais do 25 de Abril. No Parlamento a coisa foi pífia, nas ruas a festa assumiu o carácter do protesto contra o que estamos a viver. Ouvi e li o que disse o dr. Cavaco e não fiquei nem surpreendido nem chocado. É a criatura que há, o Presidente que se arranja, irremissível e sombrio. Medíocre, ressentido, mau-carácter, incapaz de compreender a natureza e a magnitude histórica da revolução. E sempre agiu e se comportou consoante a estreita concepção de mundo com que foi educado. A defesa da direita mais estratificada está-lhe no sangue e na alma, além de manter, redondo e inamovível, um verdete avassalador pela cultura. O possidonismo da sua estrutura comportamental pode ser aferido naquela cena irremediável, em que, de mão dada com a família, sobe a rampa que conduz ao Pátio dos Bichos, no Palácio de Belém, quando venceu as presidenciais.

O homem confunde Thomas Mann com Thomas More; ignora que Os Lusíadas são compostos por dez cantos; omite o nome de José Saramago, por torpe vingança, na recente viagem à Colômbia, enquanto o Presidente deste país nomeou o Nobel português com satisfação e realce; não se lhe conhece o mais módico interesse pela leitura; e, quando primeiro-ministro, recusou à viúva de Salgueiro Maia uma pensão, que, jubiloso e feliz, atribuiu a antigos torcionários da PIDE. Conhece-se a arteirice com a qual acabrunhou Fernando Nogueira, seu afeiçoado; a inventona das escutas em Belém, montada por um assessor insalubre e por um jornalista leviano; a confusa alcavala com o BPN, com a qual auferiu uns milhares de euros; contrariou uma tradição, por ódio e rancor (sempre o ódio e o rancor), e não condecorou José Sócrates, quando este saiu de primeiro-ministro. É uma criatura sem amigos; dispõe, apenas, de instantes de amizade interesseira. Nada mais.

O discurso que tem suscitado tanta brotoeja é o seu normal. Tão mal escrito quanto os outros; desprovido de conteúdo racional, emocional e ético; e um atropelo às mais elementares normas de sensatez e equilíbrio exigíveis a quem desempenha aquelas nobres funções. Espanto e indignação porquê e para quê?, se ele não tem emenda nem berço que o recomende.

Mas as coisas, ultimamente, têm atingido proporções inquietantes. A ida a Belém do primeiro-ministro e do ministro das Finanças perturbou o senhor. Parece julgar-se a rainha de Inglaterra, considerando o papel superior a que a si mesmo se atribui. A soberba dele sobe de tom, admitindo alguns de nós e muitos de entre eles que pode haver indícios de oligofrenia, doença incurável. "Eu bem avisei! Eu bem avisei!", costuma agora dizer, como uma tenebrosa ameaça. No núcleo estrutural deste homem emerge a complexidade indecisa de uma alma juvenil irresolvida - e, por isso mesmo, extremamente perigosa.

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