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OPINIÃO
Não dá nenhuma vontade de rir.
Paulo Baldaia
Algures em 2013, Mário Soares acusou Cavaco Silva de pertencer "ao bando" do governo que mexia nos dinheiros públicos, Cavaco não mexeu uma palha para repor a sua honra. Por essa altura, Miguel Sousa Tavares, contextualizando, chamou-lhe palhaço, e o chefe de Estado moveu-lhe um processo. Deu em arquivo na PGR. De lá até cá, Cavaco Silva desceu a níveis de popularidade impensáveis para um Presidente da República. Mas isso não o impediu de continuar a ver o mundo com uma venda que o faz acreditar que nunca se engana.
Hoje, falando para os mais ilustres representantes da diáspora portuguesa, Cavaco Silva abdicou de ser o representante de todos os portugueses para assumir a defesa do "pragmatismo", o que nos impõem que todos os desastres financeiros sejam pagos pelos contribuintes. É verdade, não é possível ser mais pragmático. É o que acontece, sejam os governos de centro-direita ou das esquerdas. E a generalidade dos portugueses, além de pragmática, é assim tão conformada? Não parece, pelo contrário. Aqui, como em muitos países da Europa, o povo quer alterar o sistema e procura alternativas, recuperando ideologias.
A Zona Euro, bem vistas as coisas, não é ideológica, é pragmática. Mas ela não existe para dominar as democracias e torná-las numa zona franca financeira em que a ideologia fica proibida. Mal se percebe, por isso, que o máximo representante de todos os cidadãos nos diga que a ideologia "só resiste como um modo de vida de comentadores, de analistas políticos, de articulistas que fazem o deleite de alguns ouvintes e alguns leitores em tempos livres".
Fazer o deleite em tempos livres é o que procura fazer qualquer palhaço que se preze. Como comentador, analista e articulista assumo essa minha faceta de palhaço. Ideologicamente falando, o que me custa aceitar é que existam palhaços pragmáticos. Não dá nenhuma vontade de rir.
Presidente avisa que a "realidade acaba sempre por derrotar a governação ideológica"
MARIA LOPES 22/12/2015 - 15:10
Numa intervenção no Conselho da Diáspora, Cavaco Silva defendeu que é preciso ser pragmático e que não há espaço para ideologias. E disse que Portugal "se mantém à tona da água porque integra o núcleo duro da zona do euro" e "se saltasse fora afundava-se".
Derradeiro recado do Presidente da República foi feito num Conselho da Diáspora Portuguesa ENRIC VIVES-RUBIO
Foi o derradeiro recado do Presidente da República num Conselho da Diáspora Portuguesa, um grupo de 84 notáveis portugueses que faz lobbying por Portugal por esse mundo fora, mas Cavaco Silva não falava para a quase uma centena de pessoas que estavam na sua frente e sim para o Governo e para os partidos da esquerda que o apoiam no Parlamento.
Pegando no exemplo da Grécia, que este ano mudou de Governo, andou em negociações com a União Europeia e depois teve que aceitar os condicionalismos de um terceiro resgate, o Chefe de Estado avisou que esta é a prova de que "em matéria de governação, a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia". Mais: "A governação ideológica pode durar algum tempo, faz os seus estragos na economia, deixa facturas por pagar, mas acaba sempre por ser derrotada pela realidade", vincou Cavaco Silva.
O Presidente realçou que entre os governos da União Europeia o que domina é o "pragmatismo", enquanto a ideologia económica, na zona euro, "só resiste como um modo de vida de comentadores, de analistas políticos, de articulistas que fazem o deleite de alguns ouvintes e alguns leitores em tempos livres". Resistindo a mencionar casos nacionais, Cavaco Silva preferiu tentar manter as críticas num plano distante, voltando à Grécia e apontando o ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, como o "exemplo claro" de que essa governação económica só existe nos comentadores, ao passo que "na governação concreta, o que domina é o pragmatismo".
Este não é, portanto, um tempo de ideologias, porque não há grandes alternativas. Numa altura em que a coesão europeia tem sido posta em causa com, por exemplo, a proibição de livre circulação em algumas regiões e a ameaça que paira no ar de o Reino Unido poder abandonar a União Europeia, é urgente que a UE mantenha a "solidez do seu núcleo duro" e reforce os alicerces.
Como? Através da finalização da sua arquitectura: criar uma verdadeira união económica e financeira completando a união bancária e monetária. Uma "verdadeira união orçamental" poderia assegurar a disciplina orçamental e a sustentabilidade da dívida pública em todos os Estados-membros e permitiria a aplicação de uma política fundamental de estabilização. Ora, é nesse ponto que o país não pode vacilar, avisa o Presidente, que dramatiza o seu discurso: "Portugal mantém-se à tona da água porque integra este núcleo duro da zona do euro; Portugal não tem alternativa à zona do euro - se saltasse fora afundava-se."
O Presidente disse ainda que a zona euro foi submetida a uma “prova muito exigente, de resistência” com a crise da Grécia e resistiu – “e ainda bem que resistiu”, congratulou-se Cavaco Silva -, até porque, acredita, houve uma “consciência clara de que a desagregação tinha custos gigantes”. E como depois da tempestade vem a bonança, os europeus têm agora a “sensação de que os riscos de desmembramento são pequenos”.
O “barril de pólvora”
Antes de entrar nestas dissertações sobre governação ideológica, o Presidente da República falou sobre outros desafios que a Europa enfrenta actualmente e que, na sua maior parte, se desenvolveram no último ano. Considerou que a União Europeia vive tempos de grande incerteza, confrontada com “desafios muito complexos a que tem tido dificuldade de responder”, como é o caso do terrorismo, que “chegou ao coração da Europa” e deixou um sentimento geral de insegurança, ou do controlo das fronteiras com a chegada massiva de refugiados. Ou ainda do perigo de desagregação interna com a possível dissidência do Reino Unido.
A esse cenário de instabilidade interna soma-se um clima de guerra na “vizinhança”: as preocupações que a Europa teve durante anos com o conflito israelo-palestiniano foram completamente secundarizadas pela “violência dos combates” que agora se travam em países como a Síria, Iraque, Líbia ou Iémen. “O Mediterrâneo sul é um barril de pólvora”, resumiu Cavaco Silva. A que se somam, se se olhar mais para Norte, as tensões geopolíticas na Rússia, em especial nas fronteiras com a Ucrânia e na região do Mediterrâneo oriental.
Arrogante e acéfalo
Foto: Nuno Andrã Ferreira/ Lusa
"Veja lá a situação da Grécia..." (Publicado hoje às 14:30 pela TSF)
Pedro Passos Coelho está em Viseu, onde decidiu fazer um passeio pelas ruas da cidade. A situação na Grécia foi um dos temas das interpelações.
O primeiro-ministro está de visita ao distrito de Viseu. Esta manhã discursou na câmara municipal e depois saiu à rua. Na cidade houve quem o questionasse sobre a situação na Grécia. Pedro Passos Coelho escutou, mas pouco disse.
Enquanto a comitiva lembrava que "os multibancos ainda têm dinheiro", o primeiro-ministro concordava que "é preciso encontrar forma de ajudar o país". Passos Coelho acrescentou, apenas, que a situação "é preocupante para os gregos, coitados. Estão a passar uma situação bem difícil", rematou Pedro Passos Coelho.
Relatório do FMI «sem alma»
As declarações do presidente do Tribunal de Contas e as opiniões de ex-ministros da Segurança Social
Assente o pó que o absurdo relatório do FMI levantou, tudo começa a ficar mais claro. Apesar dos desesperados malabarismos ensaiados pelos "capangas" de serviço, o esquizofrénico truque tem vindo a ser facilmente desmontado, com mais ou menos frontalidade, pela esmagadora maioria de personalidades e líderes de opinião que não querem ver o seu prestígio confundido com o descrédito da gente que constitui a "quatroika": Governo, FMI, BCE e Comissão Europeia.
Está indesmentivelmente assente que a encomenda do Governo teve em vista suportar a sua escondida - com o gato de fora - agenda ultraneoliberal, e daí a encomenda ao "compadre" FMI. O "trabalho sujo" vinha de fora para dentro e, à boa maneira do que já tem sido feito com outras medidas e apelidado como "técnica do vendedorde tapetes", o "bonzinho" Governo português dava-lhe uma "lavagem" para que ficasse mais "limpinho" e pronto a usar "a bem da nação" e com os agradecimentos do "Zé" pela "benevolência de Vossas Mercês".
Porém, o estratagema não saíu "comme il faut". É que, para além de outros aspectos bastamente denunciados, desde erros aberrantes a omissões inadmissíveis, o "dito cujo" não só está mal feito como foi desastradamente dado a conhecer por presumivelmente deliberada fuga de informação para um jornal e, desgraça das desgraças, incompetentemente defendido por um infantil e inhábil "secretário de estado adjunto do primeiro-ministro"
E aqui entra a percepção de que a "quatritroika" sofre de doença bipolar, também designada por maníaco-depressiva, caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e «mania». As alucinantes "canbalhotas" que levaram as fantásticas promessas de campanha e o programa de governo de Passos Coelho a transformar-se em fantasmagóricos aumentos de impostos e cortes nos empregos, nos salários, nas pensões e em todos os domínios do Estado Social, associados às contraditórias declarações e acções de responsáveis e técnicos do FMI, BCE e Comissão Europeia, são sintomas claros dessa tão indesejável doença.
Oliveira Martins: Políticas não devem ser definidas por "economistas visitantes" (14-1-2013)
O presidente do Tribunal de Contas considerou hoje indispensável que as políticas a seguir pelo Governo sejam definidas em Portugal, e não por "economistas visitantes", referindo-se ao relatório do FMI divulgado na semana passada.
"Não é bom que as políticas portuguesas sejam feitas a partir de economistas visitantes", afirmou Guilherme d' Oliveira Martins, à margem do encontro "A lei dos compromissos e a sustentabilidade do SNS", organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar e que decorre hoje em Lisboa.
Questionado pelos jornalistas sobre o relatório, Oliveira Martins garante que o leu "com todo o interesse" e que se trata de um "instrumento" que deve ser "analisado criticamente": "e quando eu digo criticamente refiro-me à necessidade de o olharmos com olhos de ver", fez questão de frisar.
"É indispensável que percebamos que quaisquer alterações a realizar em Portugal elas devem ser feitas em Portugal, por portugueses e tendo em consideração os órgãos de soberania", defendeu.
O presidente do Tribunal de Contas falava à margem de um encontro que decorre na reitoria na Universidade Nova de Lisboa, durante o qual vão ser apresentados os resultados dos trabalhos do grupo de peritos criado para analisar a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde à luz da Lei dos Compromissos.
Bagão Félix, Vieira da Silva e Silva Peneda, debatem a reforma do Estado, na TSF (14-1-2013)
Os três ex-ministros da Segurança Social, Bagão Félix, Vieira da Silva e Silva Peneda, aconselharam o Governo a parar para pensar, debater com os portugueses e só depois negociar com a "troika".
No debate da TSF, os antigos ministros destacaram que a Segurança Social é um motivo de orgulho para os portugueses, pensada e planeada durante as últimas décadas, mas avisaram também que o sistema corre riscos imediatos e poderosos se forem seguidas as sugestões do FMI.
A classe política está a cometer um erro (quer os resultados da reforma do Estado para ontem) e o FMI um outro, que Bagão Félix justifica com facilidade.
«Não conhecer a história do país, idiossincrasia, é um relatório sem alma», considera.
O antigo ministro da Segurança Social diz que o caminho que o FMI propõe faz «cortes de talho». Silva Peneda concorda, mas encontra outro aspeto perturbador no documento.
«Podemos sugerir coisas fantásticas, mas depois é preciso compreender as condições subjetivas para concretizar no terreno e essa parte não está no relatório», adianta.
Vieira da Silva não olha apenas para o relatório (esse, dispara, é «demagógico» e «irresponsável»), analisa a estratégia do Governo para a Segurança Social e considera que ela tem riscos poderosos.
No debate promovido pela TSF, três antigos ministros da Segurança Social (de três correntes políticas diferentes), chegam a uma conclusão de que Bagão Félix é porta-voz.
«Está implícita uma lógica de Estado social mínimo», realçando que muitas vezes estamos perante uma «serralharia».
O Governo tem de parar para pensar no futuro e na sustentabilidade do sistema - reclama Vieira da Silva .- e se Passos Coelho quiser seguir a sugestão, Silva Peneda recomenda particular atenção à demografia.
Será a sociedade capaz de se organizar? Conseguirão as políticas públicas ajudar cada português a cumprir um projeto de vida? Bagão Félix, Silva Peneda e Vieira da Silva têm dúvidas
Os desafios da sustentabilidade da Segurança Social – o debate : http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=2991932
Resumo das posições dos três antigos ministros, pela jornalista Ângela Braga: http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=2992435
Rui Beja
Detesto que se façam coisas porque a troika mandou
Teodora Cardoso diz que cabe a Portugal resolver os problemas, à TSF em 13 de Dezembro de 2012
Num momento em que se torna premente decidir a mudança da postura que o actual Governo tem assumido, relativamente às medidas draconianas de austeridade cega que levam em cada dia que passa ao empobrecimento irreversível do país e dos portugueses, é do maior interesse atender às palavras sabedoras da credenciada e experiente economista Teodora Cardoso.
Como refere a notícia publicada pela TSF Online "A presidente do Conselho das Finanças Públicas entende que é preciso saber bater o pé aos credores internacionais...", acrescentando sem rodeios: "É uma coisa que detesto: fazer-se porque a troika mandou. Temos de perceber e discutir com a troika quando acharmos que o que nos estão a dizer para fazer nao é o melhor para fazermos".
Relativamente à relação entre as medidas tomadas para a Grécia e as que conviriam a Portugal, defendeu que as soluções devem ser adoptadas conforme as circunstâncias existentes em cada país e, frisando que não vivemos uma situação semelhante à da Grécia, acentuou que "É muito discutível até que ponto são benéficas para a própria Grécia, porque, no fundo, quando há medidas de favor, porque a situação está incontrolável, essas medidas não são boas para o país".
Lembrou ainda que Portugal "conseguirá melhorar as taxas de juro da dívida e os prazos tanto mais quanto melhor conseguirmos consolidar as finanças públicas e a administração pública e gerir bem a dívida pública" e acrescentou "Por isso vamos chegar lá de uma maneira segura e duradoura. Doutra maneira, andamos a discutir como meninos da escola. Não é o caminho". Considerou também que Portugal se "preocupa demasiado" com a troika, que "não vai resolver os nossos problemas", uma vez que na sua opinião será Portugal a ter de os resolver.
Finalmente, no que se refere às medidas para reforma do Estado, que o Governo vai anunciar em Fevereiro, a economista espera que o Executivo pense que "não é pela via das medidas pontuais de curto prazo que vai resover problemas que existem há muito tempo e que vão demorar a resolver.".
Espero que o ministro das Finanças tenha capacidade para saber ouvir quem se pronuncia com provas dadas e que use o mínimo de bom senso para pôr fim ao experimentalismo que tem seguido sem pudor dos destroços deixados pelo caminho que vem trilhando em direcção ao abismo - chegarmos ao estado que deixaram a Grécia chegar, para só então renegociarmos o memorandum, não é uma solução, é criar um monumental problema económico-financeiro com efeitos socialmente devastadores.
Mudar não é nenhuma vergonha, mas insistir no erro é prova de má-fé ou de falta de inteligência. Habitue-se a bater o pé aos alemães. Olhe que eles até gostam mais de lidar com quem lhes dá luta com sentido, do que de tatar com meninos bem comportados que dizem a tudo que sim à espera de no fim ganharem um doce que nunca lhes chegará às mãos. Pode crer que sei do que falo.
Atentem, senhores governantes que nós, os portugueses, estamos bem cientes que os nossos problemas não residem no memorandum assinado com a Troika, mas nos interesses dos "traficantes de droga financeira" que depois de nos terem seduzido com "produto disponibilizado por hábeis passadores", querem agora, aproveitando-se do vosso "PREC ultraneoliberal", levar tudo o que temos e o que não temos para depois... escolherem a próxima vítima.
Rui Beja