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Edição online de 8 de Janeiro de 2016
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OPINIÃO
Não dá nenhuma vontade de rir.
Paulo Baldaia
Algures em 2013, Mário Soares acusou Cavaco Silva de pertencer "ao bando" do governo que mexia nos dinheiros públicos, Cavaco não mexeu uma palha para repor a sua honra. Por essa altura, Miguel Sousa Tavares, contextualizando, chamou-lhe palhaço, e o chefe de Estado moveu-lhe um processo. Deu em arquivo na PGR. De lá até cá, Cavaco Silva desceu a níveis de popularidade impensáveis para um Presidente da República. Mas isso não o impediu de continuar a ver o mundo com uma venda que o faz acreditar que nunca se engana.
Hoje, falando para os mais ilustres representantes da diáspora portuguesa, Cavaco Silva abdicou de ser o representante de todos os portugueses para assumir a defesa do "pragmatismo", o que nos impõem que todos os desastres financeiros sejam pagos pelos contribuintes. É verdade, não é possível ser mais pragmático. É o que acontece, sejam os governos de centro-direita ou das esquerdas. E a generalidade dos portugueses, além de pragmática, é assim tão conformada? Não parece, pelo contrário. Aqui, como em muitos países da Europa, o povo quer alterar o sistema e procura alternativas, recuperando ideologias.
A Zona Euro, bem vistas as coisas, não é ideológica, é pragmática. Mas ela não existe para dominar as democracias e torná-las numa zona franca financeira em que a ideologia fica proibida. Mal se percebe, por isso, que o máximo representante de todos os cidadãos nos diga que a ideologia "só resiste como um modo de vida de comentadores, de analistas políticos, de articulistas que fazem o deleite de alguns ouvintes e alguns leitores em tempos livres".
Fazer o deleite em tempos livres é o que procura fazer qualquer palhaço que se preze. Como comentador, analista e articulista assumo essa minha faceta de palhaço. Ideologicamente falando, o que me custa aceitar é que existam palhaços pragmáticos. Não dá nenhuma vontade de rir.
Presidente avisa que a "realidade acaba sempre por derrotar a governação ideológica"
MARIA LOPES 22/12/2015 - 15:10
Numa intervenção no Conselho da Diáspora, Cavaco Silva defendeu que é preciso ser pragmático e que não há espaço para ideologias. E disse que Portugal "se mantém à tona da água porque integra o núcleo duro da zona do euro" e "se saltasse fora afundava-se".
Derradeiro recado do Presidente da República foi feito num Conselho da Diáspora Portuguesa ENRIC VIVES-RUBIO
Foi o derradeiro recado do Presidente da República num Conselho da Diáspora Portuguesa, um grupo de 84 notáveis portugueses que faz lobbying por Portugal por esse mundo fora, mas Cavaco Silva não falava para a quase uma centena de pessoas que estavam na sua frente e sim para o Governo e para os partidos da esquerda que o apoiam no Parlamento.
Pegando no exemplo da Grécia, que este ano mudou de Governo, andou em negociações com a União Europeia e depois teve que aceitar os condicionalismos de um terceiro resgate, o Chefe de Estado avisou que esta é a prova de que "em matéria de governação, a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia". Mais: "A governação ideológica pode durar algum tempo, faz os seus estragos na economia, deixa facturas por pagar, mas acaba sempre por ser derrotada pela realidade", vincou Cavaco Silva.
O Presidente realçou que entre os governos da União Europeia o que domina é o "pragmatismo", enquanto a ideologia económica, na zona euro, "só resiste como um modo de vida de comentadores, de analistas políticos, de articulistas que fazem o deleite de alguns ouvintes e alguns leitores em tempos livres". Resistindo a mencionar casos nacionais, Cavaco Silva preferiu tentar manter as críticas num plano distante, voltando à Grécia e apontando o ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, como o "exemplo claro" de que essa governação económica só existe nos comentadores, ao passo que "na governação concreta, o que domina é o pragmatismo".
Este não é, portanto, um tempo de ideologias, porque não há grandes alternativas. Numa altura em que a coesão europeia tem sido posta em causa com, por exemplo, a proibição de livre circulação em algumas regiões e a ameaça que paira no ar de o Reino Unido poder abandonar a União Europeia, é urgente que a UE mantenha a "solidez do seu núcleo duro" e reforce os alicerces.
Como? Através da finalização da sua arquitectura: criar uma verdadeira união económica e financeira completando a união bancária e monetária. Uma "verdadeira união orçamental" poderia assegurar a disciplina orçamental e a sustentabilidade da dívida pública em todos os Estados-membros e permitiria a aplicação de uma política fundamental de estabilização. Ora, é nesse ponto que o país não pode vacilar, avisa o Presidente, que dramatiza o seu discurso: "Portugal mantém-se à tona da água porque integra este núcleo duro da zona do euro; Portugal não tem alternativa à zona do euro - se saltasse fora afundava-se."
O Presidente disse ainda que a zona euro foi submetida a uma “prova muito exigente, de resistência” com a crise da Grécia e resistiu – “e ainda bem que resistiu”, congratulou-se Cavaco Silva -, até porque, acredita, houve uma “consciência clara de que a desagregação tinha custos gigantes”. E como depois da tempestade vem a bonança, os europeus têm agora a “sensação de que os riscos de desmembramento são pequenos”.
O “barril de pólvora”
Antes de entrar nestas dissertações sobre governação ideológica, o Presidente da República falou sobre outros desafios que a Europa enfrenta actualmente e que, na sua maior parte, se desenvolveram no último ano. Considerou que a União Europeia vive tempos de grande incerteza, confrontada com “desafios muito complexos a que tem tido dificuldade de responder”, como é o caso do terrorismo, que “chegou ao coração da Europa” e deixou um sentimento geral de insegurança, ou do controlo das fronteiras com a chegada massiva de refugiados. Ou ainda do perigo de desagregação interna com a possível dissidência do Reino Unido.
A esse cenário de instabilidade interna soma-se um clima de guerra na “vizinhança”: as preocupações que a Europa teve durante anos com o conflito israelo-palestiniano foram completamente secundarizadas pela “violência dos combates” que agora se travam em países como a Síria, Iraque, Líbia ou Iémen. “O Mediterrâneo sul é um barril de pólvora”, resumiu Cavaco Silva. A que se somam, se se olhar mais para Norte, as tensões geopolíticas na Rússia, em especial nas fronteiras com a Ucrânia e na região do Mediterrâneo oriental.
SIC Notícias
18:00 29.10.2015
Cavaco, o inimigo do Bloco Central
Em 1983, ainda antes de Cavaco Silva fazer a rodagem do seu carro rumo à Figueira da Foz, Portugal tinha umas finanças depauperadas e foi obrigado a recorrer ao FMI. Tinha ficado para trás um governo AD (PSD+CDS+PPM) e as eleições desse ano ditaram uma vitória do PS. As dificuldades ao tempo e a receita da austeridade aconselhavam um governo forte. Mário Soares percebeu isso e co-responsabilizou o PSD naquele que ficou conhecido como o governo do Bloco Central. O único que houve até hoje. Mota Pinto era o líder de um PSD minado, dividido. Não passou muito tempo até à sua resignação e súbita morte de ataque cardíaco. Rui Machete levou o partido a congresso e foi aí que Cavaco Silva surpreendeu João Salgueiro e lhe arrebatou a vitória que parecia certa.
Cavaco surgiu determinado a pôr fim ao Bloco Central e a provocar a antecipação de eleições. E assim foi. O quadro económico e social era muito complexo, estava longe de estabilizado, a taxa de desemprego ia além dos 10%, os salários reais tinham caído 16%, proliferavam situações de salários em atraso. É verdade que o défice da balança de transações correntes tinha sido reduzido significativamente, havendo até um excedente. Mas a situação estava longe de estabilizada. Tudo aconselharia à manutenção da coligação PS-PSD, mas não foi isso que ditou o instinto de poder de Cavaco Silva. Política, afinal. Cavaco percebeu a oportunidade e cavalgou-a, deixando boquiaberto Soares, que chegou a atirar-lhe um dia na Rua da Emenda: "Mas quem é o senhor?!" Obviamente, foi o poder que moveu Cavaco Silva.
O resto é bem conhecido, Cavaco ganharia as eleições de 85 e instalou-se em São Bento 10 anos. Ficou para a história como o homem que matou o Bloco Central. Os tempos eram outros, mas o homem é o mesmo. Nunca se entendeu com outros partidos, particularmente com o PS. Ainda chegou a ter alguma consideração por José Sócrates, admirou-lhe a determinação, mas passou-lhe depressa. Talvez por culpa de Sócrates...
Cavaco Silva fez um governo minoritário e admitiria outros, já Presidente. A verdade é que houve poucos artífices de maiorias absolutas. O mais recente pedido de resgate financeiro coube a Sócrates e foi concertado com PSD e CDS, antes de eleições antecipadas. A maioria absoluta, que se formou depois, foi suficiente para impor um programa de austeridade. E fez questão de hostilizar o PS sempre que pôde, mesmo quando parecia que lhe pedia a mão. Cavaco começou por não se preocupar com um compromisso alargado ao PS, apesar de terem sido três os partidos que se responsabilizaram pelo resgate. Só a meio da legislatura, após uma ameaça de ruptura da coligação, quis prender os socialistas à grelha da troika. Seria um grande bloco central. Assim, até poderia avançar mais cedo para eleições. O PS estaria inibido de grandes dissonâncias... E seria um modo superior de matar as veleidades socialistas. Cavaco chegou tarde. E agora, com a mesma coligação já sem maioria, volta a chegar tarde. No seu entender, e de muitos que governam o resto da Europa, só há um caminho à nossa frente. Nada mais contrário ao pensamento e acção política dos socialistas e demais esquerda na última legislatura.O que leva Cavaco a insistir em comprometer o PS com a direita é tão só a vontade de o neutralizar. Poder, afinal. Política mesmo. Cavaco matou o Bloco Central em 85, quando o país vivia nas amarras do FMI. Nestas eleições não lhe passou pela cabeça que a esquerda se unisse. Não era essa a tradição. Se ela se cumprisse, o PS não teria outro remédio senão ir tolerando a coligação à sua direita... Bem ou mal, porventura mal, o rio que separa PSD e PS nunca foi tão largo. Cavaco Silva e Passos Coelho não são inocentes neste caminho.
Política e poder. É disso que se trata. O resto é retórica. Não é António Costa que mata o Bloco Central, como Cavaco em 85. Uma impossibilidade desde então, apesar dos interesses e dos lugares. O líder do PS assume o poder de uma maioria de esquerda. E esse é um poder novo com que Cavaco não contava. Bem pode pregar contra comunistas e bloquistas... Poder e política, como em 85. E como é costume em democracia. Tão só, mesmo que venha a ser mal sucedido.
Depois de muito pensar...
Foto José Sena Goulão/Lusa
O diário de
Domingos Amaral
Sexta-feira, 23.10.15
Cavaco é um "ganda" maluco!
O que quiz fazer e dizer Cavaco, ontem à noite?
Indigitar Pedro Passos Coelho era um gesto esperado, e consistente com a prática política portuguesa.
A surpresa não foi essa.
Mesmo sabendo que Passos dificilmente terá um programa aprovado no parlamento, Cavaco decidiu que valia a pena tentar.
Nada a dizer por aí.
Contudo, ao criticar duramente o PS, o Bloco e o PCP, o presidente deu a entender que jamais nomeará um governo apoiado pelas três forças de esquerda.
Com isso, elimina uma segunda solução possível para o Governo de Portugal.
Ao insistir que Bloco e PCP não apoiam a Europa e a Nato, Cavaco anula uma hipótese viável, sem dar qualquer alternativa.
Mas, o erro maior foi o apelo à desunião do PS.
Ao falar na consciência individual dos deputados, o presidente deu o seu aval à revolta no PS, tentando que a ala dos seguristas se afastasse de Costa, votando a favor do Governo de Passos Coelho.
Ora, os partidos são entidades que não gostam de ser atacadas, e quando o são, têm tendência para se unirem à volta do líder.
Assim foi com o PS.
Horas depois da comunicação de Cavaco, já o PS dizia que ia chumbar o governo de Passos, e até os moderados, como Assis, consideravam inaceitáveis as palavras do presidente.
O "boomerang" regressou e bateu na cara de Cavaco.
Em resumo: o discurso do presidente dividiu ainda mais as águas, afastando cada vez mais as forças de direita das forças de esquerda.
Agora, ou se está de um lado, ou se está do outro.
Contudo, esta clarificação não adianta nada.
O que fará Cavaco, se Passos for chumbado na Assembleia?
Mantém em gestão o governo, sem Orçamento, até que seja eleito novo presidente?
A outra hipótese é a nomeação de um governo de iniciativa presidencial.
Cavaco chamaria alguém de fora dos partidos, para governar o país durante seis meses.
Mas, quem apoiará esse mal amado governo?
Nem a direita nem a esquerda o quererão fazer...
O discurso de Cavaco lançou Portugal numa guerra política sem precedentes.
Os próximos tempos serão divisionistas, duros e complexos para todos.
A direita está radicalizada e unida, a esquerda está radicalizada e unida.
E a eleição presidencial vai transformar-se também numa guerra entre esquerda e direita.
Um dos principais prejudicados do discurso de Cavaco foi Marcelo, e o maior beneficiado foi Sampaio da Nóvoa.
Se a intenção de Cavaco era deixar a presidência da República com um governo da sua área política em São Bento e um presidente da sua área política em Belém, acho que fez tudo errado.
Passos vai ser derrubado, e quem sabe se Marcelo não começou a perder as eleições.
Ontem, Cavaco foi mesmo um "ganda" maluco.
Opinião
Declaração de guerra
24/10/2015 - 05:00
Onde a mensagem do Presidente é mais grave é no confronto que faz à Assembleia da República.
(Revista Visão de 2 de Julho de 2015 - página 42)
Até há poucos dias, tudo nos separava da Grécia : tínhamos tido uma saída limpa do resgate. As taxas de juro da dívida batiam recordes negativos. As reformas e os cortes exigidos pela troika tinham sido cumpridos. O défice iria baixar dos 3% este ano. Antecipavamos pagamentos ao FMI. Os portugueses tinham feito e continuavam a fazer sacrifícios. A razão dizia-nos que, mesmo que a Grécia saísse, Portugal não seria afetado. Não poderíamos ser o próximo a sair do euro. É nesta linha que aparecem as esclarecedoras palavras de Cavaco Silva que resumiu: «Se a Grécia sair, em vez de 19, seremos 18, na Zona Euro». Lili Caneças não diria melhor.
A frase de Cavaco Silva é a metáfora perfeita do que está a acontecer à Europa: egoísno, autismo, falta de conhecimento histórico, hipocrisia e uma inacreditável cobardia. Cavaco é o hipopótamo da fábula que, apontando para a dívida do lado, diz, entre dentes: «Coitadinho do crocodilo...».
O problema é que a frase de Cavaco, que isola a Grécia e nos separa do seu destino, não tem correspondência com a realidade, como ficou demonstrado, esta semana, na bolsa lisboeta - a maior queda da Europa - e com a subida das taxas de juro, a maior apreciação a seguir à da dívida grega, em todos os prazos. O coração dos mercados tem razões que a razão desconhece
...
Sem comentários!!!
Fotografia DN Online - 9 Março 2015
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
HOJE POR PEDRO CANDEIAS
Coordenador
9 de Março de 2015
Disse Cavaco Silva que isto que liga Passos Coelho à história da dívida à Segurança Social era uma guerrinha de comentadores em que um PR ajuizado não se devia meter – mas meteu-se. Cavaco, que tem “muita experiência” e distingue “jogos” de “matérias” a léguas, escorregou, tropeçou e caiu no comentarismo ao falar de lutas políticas e partidárias que “já cheiram a campanha eleitoral”. Que é como quem diz, deixem-se de lérias e vão lá tratar da vida real. E do país.
Cavaco não perdeu pela demora: António Costa achou as declarações “infelizes”; Marques Mendes pediu-lhe para ser “equidistante” na SIC; e Marcelo Rebelo de Sousa lembrou-lhe via TVI que a barafunda entre partidos existe, sim, mas apenas e só porque o PR não “quis marcar eleições mais cedo.” E repetiu: “Fez mal, fez mal”.
Fez mal em não ter estado calado.
Não sei se Cavaco é fã de Mourinho (presumo que sim) e se terá tentado uma abordagem mourinhesca do estilo estou aqui, critiquem-me a mim mas deixem o homem em paz; mas desconfio que Cavaco não morre de amores pelo homem em questão pelo que vê-lo a salvar a pele de Passos só mesmo em nome de uma estabilidade (a sua) e de um mandato presidencial (o seu) que entra hoje no último ano.
Do sentido de estado ao "inconseguimento"
Eanes, Soares, Sampaio e Balsemão: o passado já não (n)os divide
Quando falaram do presente, os ex-presidentes da República receberam palmas da assistência, que encheu o Auditório da Fundação Gulbenkian.
Desta vez, Mário Soares não estava disposto a falar de actualidade. "Já basta o que basta", atirou, para uma plateia que esperava mais. A única vez em que se permitiu um comentário sobre o presente, foi muito aplaudido: "Quando os militares de Abril não vão ao Parlamento, eu também não vou", disse, lembrando a polémica sobre aos 40 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que leva a que, pelo segundo ano consecutivo, a Associação 25 de Abril recuse o convite para estar presente na sessão parlamentar comemorativa...
Eanes aproveita o silêncio de Soares sobre o presente e faz o retrato mais crítico dos nossos dias: "É necessário sair desta crise sem agredir a unidade popular"; "Quando a juventude emigra por necessidade está a dizer que não acredita no presente"; "Haver portugueses com fome é uma coisa que nos ofende e que não devíamos permitir"; "Sem Estado Social o pluralismo, a tolerância, tudo isso está em perigo".
Jorge Sampaio encerrou as intervenções depois disto... O mais novo dos ex-Presidentes mostrou-se empenhado em "preservar o Estado Social" e, sobretudo, em "não reduzir tudo isto a um Estado mínimo". Defendeu que "não é com salários baixos, é com pessoas qualificadas" que se pode desenvolver o País. E fugu à ideia de "pacto" ou de "compromisso" partidário ("já estou queimado com a palavra") defendendo, antes, um "compromisso de baixo para cima", em torno de "ideias a 20 anos".
“Posso testemunhar a atenção que Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país”, agradece Cavaco Silva
“Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o doutor Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento”, disse na tarde desta sexta-feira o Presidente na República na abertura da conferência Portugal: Rumo ao Crescimento e Emprego. Fundos e Programas Europeus: solidariedade ao serviço da economia portuguesa, que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Daí que, quase a terminar o seu discurso de quatro páginas, Aníbal Cavaco Silva tenha sido ainda mais claro: “Portugal e os Portugueses, tal como os outros Estados-Membros, muito lhe devem.” ..."O problema é deles", diz Assunção Esteves sobre exigência da Associação 25 de Abril
A presidente da Assembleia da República afirmou esta quinta-feira que convidou a Associação 25 de Abril para estar presente na sessão solene comemorativa da revolução, e que se os militares impõem a condição de falar "o problema é deles".
"Todos os anos há convite à associação 25 de Abril. Este ano houve novo convite, o resto não existe, não comento o que não existe", começou por dizer Assunção Esteves aos jornalistas.
Confrontada com a condição de usar da palavra imposta pelo presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, para que os militares de Abril estejam presentes na sessão solene, Assunção Esteves respondeu: "O problema é deles". "Houve um convite para virem ao parlamento, só", frisou.
Senhor Primeiro Ministro
Exmo Dr. Pedro Passos Coelho
Lisboa, 1 de julho de 2013
Excelência,
No dia 22 de outubro de 2012, há pouco mais de oito meses, dirigi-lhe uma carta em que asinalava a urgência da minha substituição no cargo de Ministro de Estado e das Finanças. Agora, em meados do ano seguinte, essa urgência tornou-se inadiável.
A oportunidade do meu pedido de demissão no outono de 2012 ocorreu após uma série de importantes acontecimentos, entre os quais me permito destacar o acórdão do Tribunal Constitucional de 5 de julho de 2012 e uma erosão significativa no apoio pública às políticas necessárias ao ajustamento orçamental e financeiro na sequência das alterações então propostas à taxa social única.
Numa crise de financiamento externo, estou convencido que o país devedor, em crise, tem inicialmente de dar prioridade à restauração da relação fiduciária com os credores oficiais e privados. Na ausência de um entendimento estável, a parte devedora sofrerá custos económicos e sociais agravados. Aquando do início do mandato do atual Governo, a confiança dos nossos credores externos necessitava ser recuperada com urgência, tal era a gravidade da nossa situação; hoje, estiu confiante que o esforço deve ser dirigido à preservação dessa confiança, face aos resultados alcançados.
Senhor Primeiro Ministro
As semelhanças entre a primavera de 2013 e o outono de 2012 são claras e marcadas. Como bem sabe, pareceu-me inevitável a minha demissão na sequência do segundo acordão negativo do Tribunal Constitucional. Foi-me pedido que continuasse para assegurar a conclusão do sétimo exame regular, a extensão do do prazo de pagamento dos empréstimos oficiais europeus e a preparação do orçamento retificativo, necessário depois da prolação daquela decisão jurisdicional. Aceitei então por causa da situação dramática para a qual o país seria arrastado se essas tarefas não fossem realizadas.
O sétimo exame regular está oficialmente concluído. A extensão dos prazos dos empréstimos oficiais europeus está formalmente confirmada. O orçamento retificativo está aprovado. As condições de financiamento do Tesouro e da Economia portuguesa melhoraram significativamente. O investimento poderá recuperar com base na confiança dos empreendedores. A minha saída é agora, permito-me repetir, inadiável.
Relembro que apenas o Conselho de Ministros extraordinário de 12 de maio recebi um mandato claro do Governo que permitisse a conclusão do sétimo exame regular (o que ocorreu imediatamente a seguir, a 13 de maio). A ausência de um mandato para concluir atempadamente o sétimo exame regular não me permite agora continuar a liderar a equipa que conduz as negociações com o objetivo de melhor proteger os interesses de Portugal.
Senhor Primeiro Ministro
Numa carta de demissão é imperativo refletir sobretudo sobre as próprias limitações e responsabilidades. O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças.
Os grandes custos de ajustamento são, em larga medida, incontornáveis, dada a profundidade e persistência dos desequilíbrios, estruturais e institucionais, que determinaram a crise orçamental e financeira. No entanto, o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. Requerem uma resposta efetiva e urgente a nível europeu e nacional. Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase do ajustamento: a fase do investimento! Esta evolução exige credibilidade e confiança. Contributos que, infelizmente, não me encontro em condições de assegurar. O sucesso do programa de ajustamento exige que cada um assuma as suas responsabilidades. Não tenho, pois, alternativa senão assumir plenamente as responsabilidades que me cabem.
Senhor Primeiro Ministro
Liderança é, por vezes, definida como sabedoria e coragem combinadas com desinteresse próprio. A liderança assim exercida visa os superiores interesses nacionais que perduram de geração em geração. Fácil de dizer, difícil de assegurar, em particular quando as condições são de profunda crise: orçamental, financeira, económica, social e política. Sendo certo que contará sempre com a inteligência, coragem e determinação dos portugueses, cabe-lhe o fardo da liderança. Assegurar as condições internas de concretização do ajustamento são uma parte deste fardo. Garantir a continuidade da credibilidade externa do país também. Os riscos e desafios dos próximos tempos são enormes. Exigem a coesão do Governo. É minha forte convicção que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa.
Pela minha parte, resta-me agradecer o enorme e inestimável apoio que me prestou nestes dois anos de excelente cooperação.
Com amizade, lealdade e admiração do
Após a austeridade, o que sobra de Portugal?
Pergunta em manchete o "International Herald Tribune" Europa, analisando os efeitos da recessão prolongada no país, conforme noticiado no Expresso Online de 24 de Abril de 2013
Já tivemos um certo "Presidente do Conselho" que defendia para Portugal a política cega do "orgulhosamente sós". Depois do discurso de 25 de Abril de 2013, ficámos a saber que temos um "Presidente da República" que, sabe-se lá porquê, passou a defender um consenso alargado em prol da política suicida do "orgulhosamente asfixiados". Má sina a nossa!
Portugal passou de ser considerado um bom exemplo de abordagem da austeridade (o recurso ao resgate financeiro antes de uma situação desesperada) a bom exemplo de como os governos têm sido incapazes de recuperar a saúde económica à medida que as economias encolhem devido à recessão prolongada.
Esta é uma das conclusões do artigo que a edição de hoje do "International Herald Tribune" (IHT) publica em manchete e que se concentra nos efeitos dos cortes no país. Esta edição internacional para a Europa do "New York Times" debruça-se também sobre o impacto das medidas de austeridade nos países que tiveram um resgate financeiro (Irlanda, Grécia e Portugal) e ficaram sujeitos às medidas impostas pela Troika - Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE).
Em Portugal, escreve o IHT, questões fundamentais como "podem os governos dar-se ao luxo de manter os seus sistemas sociais. E, se não, até que ponto podem os governos fazer cortes nos benefícios sem comprometeram a recuperação económica, intensificar os desequilíbrios sociais e comprometer o bem-estar de gerações futuras" só passaram a ser equacionadas desde que o Tribunal Constitucional chumbou algumas das medidas de austeridade previstas no Orçamento de Estado para 2013.
As circunstâncias são tão sérias, continua o IHT, que o primeiro-ministro "Passos Coelho avisou que a sua prioridade governativa, após a decisão do TC, passara a ser fazer todo o possível para evitar um segundo resgate".
A educação é o tema subsidiário em que o artigo do IHT se detém para avaliar o estado da economia portuguesa. O despedimento de 15 mil professores, cortes nos orçamentos das instituições que reinstituíram os valores de 2001, e ausência de investimento em remodelação asfixiam, de acordo com as entrevistas, o ensino presente e comprometem a continuação da melhoria do sistema de ensino, identificado como um dos mais fracos da Europa.
Os entrevistados citados pelo IHT acusam o FMI de fazer cálculos errados e de só se interessar por um ponto de vista economicista, esquecendo as vidas das pessoas afetadas pelas medidas de austeridade.
Rui Beja
Inevitavelmente!
Aníbal Cavaco Silva perdeu, com o discurso feito na Assembleia da República em 25 de Abril de 2013, o mínimo de credibilidade política e independência institucional que lhe pudesse restar, contradizendo-se e colando-se inexoravelmente à desastrada política ultraneoliberal do incompetente (des)Governo que obstinadamente prossegue na via da submissão aos ditâmes do capital financeiro à custa do rápido empobrecimento do país e dos portugueses
Egocentrismo e Arrogância são Maus Conselheiros
Porque não gostei da entrevista de Aníbal Cavaco Silva ao Expresso de 5 de Janeiro de 2013
Presunção: Opinião demasiado boa sobre si mesmo
Água benta: Água que o celebrante benze por ocasião dos ofícios
Egocentrismo: Amor exagerado aos próprios valores e interesses a despeito dos de outrem
Arrogância: Acto ou efeito de arrogar(-se), de atribuir a si direito, poder ou privilégio
Maus: Que prejudicam, que causam mal aos outros ou a si próprio
Conselheiros: Que ou quem aconselha; conselho = bom senso, sabedoria, prudência
Não gostei. Na qualidade de cidadão português na plena posse das suas capacidades e no pleno uso dos seus direitos, entendo que na entrevista de fundo que deu ao jornal Expresso publicado no passado Sábado, o Presidente da República iludiu o dever de respeito pela inteligência, honorabilidade e memória política dos seus concidadãos.
Não gostei porque considero impróprio um Presidente da República, que se quer de todos os portugueses, falar de si próprio, das suas atitudes e das suas “vãs glórias”, como se fosse o melhor de todos nós. Eu sei, todos sabemos, que a presunção lhe está na massa do sangue; quem não se lembra do famoso “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, ou da injuriosa e fútil supremacia do “vamos ajudar a acabar o mandato com dignidade”, dirigida ao então presidente Mário Soares e que nos dias de hoje tem funcionado como autêntico boomerang?
No entanto, para além de não ir bem com a função que actualmente desempenha, a soberba também não é consistente com a fraca opinião positiva (4,2% na sondagem feita para o Expresso entre 7 e 13 de Novembro de 2012) que os portugueses conferem à sua actuação política e, muito menos, com a sua assumida fé católica.
Não gostei do estilo pretensioso, ainda que tenha de admitir que água benta cada um toma a que quer. Mas dizer nesta entrevista, e cinjo-me às frases que o jornal escolheu para títulos: “Ninguém chegou a Presidente com a minha experiência”, “Como posso não ter orgulho dos meus governos?” ou, referindo-se ao caso BPN, “Não me incomoda, estou seguro da verdade”!? Não, não gosto, claro que não gosto e obviamente que não bebo dessa água. Exemplifico porquê, muito sinteticamente, tocando apenas três aspectos inequivocamente contraditórios:
i. De que serve a experiência, seja do que for, para o exercício como mais alto magistrado da nação, a quem assume na própria entrevista que não gosta da política (nem dos políticos, presume-se)?
ii. Quem pode ter orgulho dos seus governos, sem quaisquer reticências, sabendo-se que apesar de terem beneficiado, como nenhum outro, das políticas de estabilização conduzidas em 1983-1984 por Mário Soares/Ernâni Lopes com o apoio do FMI, e dos enormes apoios financeiros provenientes da adesão à então CEE, em 12/6/1985 – 4 meses antes da sua primeira tomada de posse como primeiro-ministro – deixou o Governo, dez anos depois, com o país economicamente anémico (crescimento do PIB de -0,69% em 1993 e de 1,49% em 1994, conforme consta na Pordata)?
iii. Alguém acredita que outro alguém com um mínimo de auto-estima, não se sinta incomodado ao ver-se envolvido, mesmo que injustamente mas não deixando de ser reiteradamente questionado por tal, num caso como o do BPN em que por múltiplas e diversas razões aparecem como arguidos vários membros dos seus governos?
Não gostei porque toda a entrevista revela egocentrismo e arrogância; os maus conselheiros que têm pautado tantas das intervenções de Cavaco Silva ao longo da sua vida política. Sim, política, porque para ser “Política” era preciso que gostasse de ser “Político”, e não é esse o caso. Para ilustrar esta acepção, socorro-me de uma outra frase que o jornal tomou para título: “Faltam-me algumas qualidades dos políticos. A intriga cansa-me”. Pois bem, a mim, cansam-me a afronta gratuita, a insinuação, a maledicência, a suspeição, a maquinação, a insídia… Numa palavra, cansa-me a hipocrisia!
Além do mais, toda esta componente da entrevista deixa-me mau sabor. Ele são os subentendidos, as “colagens”, as acusações, as omissões… Por exemplo, e falando de omissões, relativamente à questão “A verdade é que gostou de ser ministro das Finanças e que isso marcou a sua vida para sempre”, alude a uns quantos sucessos que assume como pessoais mas não refere o que consta no relatório do Instituto Nacional de Estatística «30 Anos de 25 de Abril. Um Retrato Estatístico» a páginas 87:
“De 1980 a 1982, adoptou-se uma política expansionista em contra-ciclo com a economia internacional [na sequência da crise que sucedeu o segundo choque petrolífero de 1979]. Durante este período, assistiu-se a uma subida na inflação e o crescimento real do produto desacelerou.” (Cavaco Silva foi ministro das Finanças entre 3/1/1980 e 9/1/1981).
Não gostei porque as explicações que dá, logo no princípio da entrevista, relativamente à opção de enviar o OE para fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional, assim como no que respeita à mensagem de Ano Novo, à linha económica do Governo, à “troika” e ao debate sobre as funções do Estado, são, no mínimo: egocêntricas, contraditórias e inconclusivas.
Para quê procurar palavras que exprimam o desconforto sentido? No Expresso desse mesmo dia, Fernando Madrinha assinala, no artigo de opinião que intitula «A Armadilha», o essencial das contradições em que, também do meu ponto de vista, Cavaco Silva incorre. Os seguintes extractos do artigo são exemplificativos:
i. “Promulgar um diploma e só depois perguntar ao Tribunal Constitucional se determinados artigos desse diploma estão de acordo com a Lei Fundamental é uma opção contraditória nos seus termos e uma aventura de alto risco.”…
ii. “Sendo a fiscalização sucessiva uma armadilha com estes perigos, porque decidiu o Presidente meter-se nela ao promulgar o Orçamento, mas enviar três artigos para o Tribunal Constitucional? Na verdade não decidiu: foi a reboque das circunstâncias criadas por terceiros.”…
iii. “Compreender-se-ia facilmente esta opção e, bem assim, a reafirmada preocupação com a estabilidade política, se tudo isto não fosse acompanhado de uma mensagem de Ano Novo surpreendente e demolidora, quer do Orçamento quer do rumo traçado pelo Governo.”…
iv. “O Presidente tem razão quando diz, supondo que se refere ao Governo, que não basta ter a confiança dos credores e é preciso “recuperar a confiança dos portugueses”. Mas também ele, na mensagem de Ano Novo, revela falta de confiança no Governo. A dúvida que se coloca é, pois, a de saber se estará, de facto, preocupado com a imagem e a perda de força política do Executivo, ou, acima de tudo, com a sua própria perda de popularidade e influência.”
Não gostei e não me espanta que tal acontecesse. O teor da entrevista apenas confirma a opinião formada ao longo das mais de três décadas que decorreram desde que o actual Presidente da República assumiu, em 3 de Janeiro de 1980, funções políticas executivas como ministro das Finanças e do Plano do VI Governo Constitucional .
Rui Beja