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Portugal voltou aos níveis de pobreza de há dez anos
PEDRO CRISÓSTOMO 30/01/2015 - 22:27 PÚBLICO
Em 2013, as dificuldades financeiras aumentaram risco de pobreza das crianças. A desigualdade de rendimentos agravou-se. E quem é pobre ficou mais longe de deixar de o ser.
Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos. Agora, como em 2003 ou 2004, uma em cada cinco pessoas é pobre. Dois milhões de portugueses. É este o retrato cru que se retira do inquérito às condições de vida e rendimento, publicado nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Alguns números dizem respeito a 2013, outros já são de 2014. Mas as tendências vão no mesmo sentido. A desigualdade na distribuição de rendimentos agrava-se. A taxa de privação material cresce. Há mais pessoas em risco de exclusão social. Mais crianças pobres. E quem é pobre está mais longe de deixar de o ser.
Em 2004, a taxa de pobreza era de 19,4%, em 2005 de 18,5%, em 2006 de 18,1%. Cinco anos depois, 2011, estava nos 17,9%.
Depois de aumentar em 2012 para 18,7% da população, a taxa de risco de pobreza voltou a agravar-se em 2013, passando para 19,5%. E se no início da crise já havia sinais de que as desigualdades e a exclusão estavam a aumentar, hoje, à luz de alguns anos, é “inequívoco” que se inverteu o ciclo de redução da pobreza, diz o investigador Carlos Farinha Rodrigues, especialista em desigualdades, exclusão social e políticas públicas.
Para o economista e professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Portugal recuou “uma década em termos sociais” e já reverteu os ganhos de diminuição da pobreza que se registou até 2009.
Em 2013, o agravamento da pobreza aconteceu em todos os grupos etários, atingiu com maior impacto as mulheres e foi particularmente significativo entre as crianças. O risco de pobreza é de 20% para as mulheres e de 18,9% para os homens. No caso dos menores de 18 anos, a taxa abrange já 25,6% da população, face aos 24,4% de 2012. Numa família monoparental, em que um adulto vive com pelo menos uma criança, o risco de pobreza é de 38,4%. Este foi o tipo de agregado em que a situação piorou mais, face a 2012.
A taxa de pobreza – o conceito estatístico oficial a nível europeu é “taxa de risco de pobreza” – refere-se à proporção da população cujo rendimento está abaixo da linha de pobreza (definida como 60% do rendimento mediano).
Como num período de crise os rendimentos tendem a baixar e, com isso, a linha de pobreza também, “as pessoas que antes eram pobres, agora, por via da quebra da linha de pobreza, ‘deixam de ser’, embora as suas condições não tenham melhorado ou até possam ter piorado”, enquadra o investigador do ISEG.
Para neutralizar este efeito, o INE tem uma estatística complementar, calculando a linha de pobreza ancorada ao ano de 2009 e fazendo a sua actualização com base na variação dos preços. E aqui o resultado é ainda mais extremado: se em 2009 a taxa de pobreza era de 17,9%, quatro anos depois chega aos 25,9%.
“Quando olhamos para aquilo que aconteceu até 2009, vemos que grande parte da redução da pobreza se deveu às políticas sociais, em particular às que foram dirigidas à pobreza e à exclusão social – o Complemento Solidário para Idosos (CSI), o Rendimento Social de Inserção (RSI), as pensões sociais”, diz Farinha Rodrigues, acrescentando que a “neutralização dessas políticas” nos últimos três anos explicam, com a subida galopante do desemprego, o “aumento das fragilidades sociais”.
Outro indicador que o INE releva é o da intensidade da pobreza, que permite conhecer a percentagem de recursos que faltam para as pessoas pobres deixarem de o ser. Esta percentagem aumentou de forma acentuada em 2013, passando para 30,3%, o que compara com os 27,4% no ano anterior e com 23,2% apenas três anos antes (em 2010). “Não só estamos a agravar fortemente a taxa de pobreza como estamos a [deixar que] os pobres tenham piores condições”, sintetiza o economista.
Privação material sobe
Mais de um quarto da população vive em privação material. Quando se refere a este universo, o INE está a identificar a proporção da população que não tem acesso a, pelo menos, três de nove itens relacionados com bens e necessidades económicas. Neste caso, os dados que o instituto apresenta já se referem a 2014. Ao todo, 25,7% da população vive em privação material. E 10,6% vive “em situação de privação material severa”, registando pelo menos quatro das nove dificuldades.
Entre esses itens estão, por exemplo, situações em que uma pessoa não consegue ter uma refeição de carne ou de peixe (ou vegetariana) pelo menos de dois em dois dias, quando um indivíduo não consegue pagar imediatamente uma despesa inesperada “próxima do valor mensal da linha de pobreza” ou quando há um atraso no pagamento de rendas, prestações de crédito ou despesas correntes, por dificuldades económicas.
Entre quem está em idade activa, a taxa é de 19,1%, valor que também se agravou face a 2012, altura em que a taxa já tinha subido para 18,4%. E o mesmo aconteceu entre a população idosa, na qual 15,1% das pessoas está em risco de pobreza, e entre os reformados, com uma taxa de 12,9%.
Entre as pessoas que têm trabalho, uma em cada dez é considerada como estando em risco de pobreza. A taxa, que tinha recuado de 2010 para 2011, subiu no ano seguinte para 10,5% e voltou a aumentar em 2013, passando para 10,7%. “Ter emprego não é uma vacina contra a pobreza”, diz Carlos Farinha Rodrigues. Mais elevado é o risco para as pessoas em situação de desemprego, universo onde a taxa subiu para 40,5% (face a 40,3% em 2012 e 36,0% em 2010).
A “forte desigualdade na distribuição dos rendimentos” manteve-se em 2013, conclui ainda o INE. Esse foi o ano em que os portugueses sentiram no bolso o agravamento do IRS, com a diminuição dos escalões e as alterações nas taxas. O Coeficiente de Gini, que numa escala de zero a cem sintetiza a assimetria dessa distribuição de rendimentos, mostra um agravamento deste indicador em 2013.
Quando o valor está mais próximo do zero, há uma maior aproximação entre os rendimentos das pessoas. Quanto mais próximo de cem estiver, mais o rendimento se concentra num menor número de indivíduos. Em 2013, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta diferença estava nos 10,7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011 e 9,4 em 2010)
Há seis meses ninguém acreditaria
TERESA DE SOUSA 25/01/2015 - 21:12, no jornal PÚBLICO
Provavelmente, o pior que poderia acontecer ao Syriza era ganhar com maioria absoluta. Precisa de um aliado que justifique algumas cedências que vai ter de fazer em Bruxelas.
Pela primeira vez na história da União Europeia, uma força política de protesto passa directamente e em meia dúzia de meses do extremo radical em que se situava para a chefia do governo. A partir daqui, tudo é possível. Para Grécia e para a Europa e os seus líderes. É verdade que há um rol infindo de razões para a vitória do Syriza. Raramente se viu nos tempos actuais um país (que é uma democracia europeia) sofrer uma contracção do PIB da ordem dos 25% em quatro anos. Isso explica que haja um desemprego de 25% (quase 60% nos jovens), que as redes sociais tenham aberto gigantescos buracos através dos quais as pessoas ficam sem qualquer apoio social, e uma dívida colossal que muitos economistas admitem não ser pagável tal como está. A instabilidade política também não ajudou. As reformas foram incipientes e havia muitas a fazer. Ainda hoje o sistema tributário grego tem as portas escancaradas para quem quer fugir ao fisco. Os governos que geriram a crise recorreram aos cortes cegos no Estado e na segurança social para cumprir as metas do défice impostas por dois resgates no valor de 240 mil milhões de euros concedidos pela União Europeia e o FMI. É nesta paisagem política e social destroçada que a vitória do Syriza se explica.
Quem votou nele não foram apenas os radicais que constituíam o núcleo duro desta coligação de comunistas, trotskistas, maoístas, antiglobalização. Foram pessoas sem grandes ilusões sobre o futuro que acharam que já não tinham nada a perder. O provável primeiro- ministro da Grécia, Alexis Tsipras, tratou de capitalizar este descontentamento generalizado moderando o seu discurso e as suas promessas políticas.
Fez profissão de fé no euro e na permanência da Grécia na Europa. Afirmou-se disposto a negociar com Bruxelas uma revisão do programa de ajustamento. Antes prometia rasgá-lo. Mas não deixou de dizer que a austeridade vai acabar, sem especificar exactamente como, e que a dívida é para negociar com os credores. A sua margem de vitória é impressionante. Mas, provavelmente o pior que lhe poderia acontecer era ganhar por maioria absoluta. Precisa de um aliado que justifique algumas cedências que vai ter de fazer em Bruxelas. Um dos mais prováveis parceiros de governo, o novo partido O Rio, de centro-esquerda, já disse que apenas fará uma coligação caso o Syriza lhe dê as garantias suficientes de que não fará nada que ponha em causa a permanência da Grécia no euro.
A segunda lição que é preciso tirar das eleições gregas é que em Berlim ou em Bruxelas ninguém se deu ao trabalho de pensar cinco minutos nas consequências políticas da austeridade punitiva imposta a qualquer custo, que a Alemanha decidiu adoptar para resolver a crise do euro à sua maneira. Nas eleições europeias de Maio, bastava prestar alguma atenção aos resultados para perceber que essas consequências acabariam por chegar. A Grécia é o primeiro país onde a paisagem política sofre uma mudança radical.
Pode acontecer noutros países. O Podemos aqui ao lado, em Espanha, ganha uma nova alma. A culpa não é só da Alemanha, bem entendido. É de uma classe política grega descredibilizada pela corrupção e pelo clientelismo que, nos bons anos, dividiu o Estado entre si. Mas é em Berlim que vai estar a decisão final sobre o destino da Grécia. Merkel mandou dizer por vias travessas que a zona euro estava hoje melhor preparada para gerir a saída da Grécia do euro. Depois recuou, mas não nas condições da sua permanência. O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, já disse que vai ser preciso encontrar uma forma de ajudar os gregos quanto à dívida e à austeridade. Mas a França não pode ceder demasiado, sob pena de alimentar a sua própria esquerda radical. Mais interessante ainda, o primeiro-ministro finlandês falou no mesmo sentido.
Há vários cenários possíveis em cima da mesa. Que a saída será uma catástrofe para a Grécia e para a Europa; que a saída seria gerivel pelas duas partes. Há contas feitas para as duas possibilidades. Na verdade, ninguém sabe ao certo o que aconteceria. Nem ninguém pode apostar na reacção dos mercados. Os próximos dias serão cruciais. Mas há uma quase certeza: sem o apoio do BCE na compra de títulos e nos empréstimos aos bancos, sem a última tranche do empréstimo da troika, com uma taxa de juro ainda muito elevada em comparação com as que pagam hoje quase todos os parceiros europeus, a Grécia tem de medir muito bem aquilo que vai fazer.
Após a austeridade, o que sobra de Portugal?
Pergunta em manchete o "International Herald Tribune" Europa, analisando os efeitos da recessão prolongada no país, conforme noticiado no Expresso Online de 24 de Abril de 2013
Já tivemos um certo "Presidente do Conselho" que defendia para Portugal a política cega do "orgulhosamente sós". Depois do discurso de 25 de Abril de 2013, ficámos a saber que temos um "Presidente da República" que, sabe-se lá porquê, passou a defender um consenso alargado em prol da política suicida do "orgulhosamente asfixiados". Má sina a nossa!
Portugal passou de ser considerado um bom exemplo de abordagem da austeridade (o recurso ao resgate financeiro antes de uma situação desesperada) a bom exemplo de como os governos têm sido incapazes de recuperar a saúde económica à medida que as economias encolhem devido à recessão prolongada.
Esta é uma das conclusões do artigo que a edição de hoje do "International Herald Tribune" (IHT) publica em manchete e que se concentra nos efeitos dos cortes no país. Esta edição internacional para a Europa do "New York Times" debruça-se também sobre o impacto das medidas de austeridade nos países que tiveram um resgate financeiro (Irlanda, Grécia e Portugal) e ficaram sujeitos às medidas impostas pela Troika - Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE).
Em Portugal, escreve o IHT, questões fundamentais como "podem os governos dar-se ao luxo de manter os seus sistemas sociais. E, se não, até que ponto podem os governos fazer cortes nos benefícios sem comprometeram a recuperação económica, intensificar os desequilíbrios sociais e comprometer o bem-estar de gerações futuras" só passaram a ser equacionadas desde que o Tribunal Constitucional chumbou algumas das medidas de austeridade previstas no Orçamento de Estado para 2013.
As circunstâncias são tão sérias, continua o IHT, que o primeiro-ministro "Passos Coelho avisou que a sua prioridade governativa, após a decisão do TC, passara a ser fazer todo o possível para evitar um segundo resgate".
A educação é o tema subsidiário em que o artigo do IHT se detém para avaliar o estado da economia portuguesa. O despedimento de 15 mil professores, cortes nos orçamentos das instituições que reinstituíram os valores de 2001, e ausência de investimento em remodelação asfixiam, de acordo com as entrevistas, o ensino presente e comprometem a continuação da melhoria do sistema de ensino, identificado como um dos mais fracos da Europa.
Os entrevistados citados pelo IHT acusam o FMI de fazer cálculos errados e de só se interessar por um ponto de vista economicista, esquecendo as vidas das pessoas afetadas pelas medidas de austeridade.
Rui Beja
Comissão Europeia esclarece o que "Durão Barroso realmente disse" sobre limites de austeridade
Declarações de Barroso sobre o facto de a Europa estar a atingir os limites da austeridade “irritaram” o porta-voz do partido de Merkel. Depois das notícias de vários jornais internacionais, a Comissão Europeia emitiu um comunicado onde consta o que “realmente” foi dito pelo antigo primeiro-ministro português. Notícia publicada no Jornal de Negócios Online de 23 de Abril de 2013
Os títulos de vários jornais internacionais davam ontem conta de uma viragem da Comissão Europeia em relação à austeridade, com base nas declarações do seu presidente, Durão Barroso, num evento em Bruxelas, na Bélgica.
“Barroso diz que a Europa está perto do limite face à austeridade”, escreveu o “Financial Times”. O “The Guardian” optou pela mesma ideia: “A União Europeia [está] perto do limite da austeridade”. Em Portugal, também o “Diário de Notícias” avançou que “Durão Barroso diz que austeridade ‘atingiu o limite’”. O Negócios, citando o "Expresso", também cita que a "austeridade atingiu o limite".
A Comissão Europeia decidiu lançar hoje um comunicado em que esclarece o que realmente foi dito. Sem intermediários. “Debate sobre a austeridade e crescimento: O que o presidente Barroso realmente disse no ‘think tank’ Dialogue, em Bruxelas”. Este é o título do comunicado de imprensa hoje colocado no site oficial da Comissão.
O discurso principal de Barroso já tinha sido inserido na página onde constam os comunicados de imprensa da Comissão Europeia. Esta terça-feira, 23 de Abril, foi inserido um novo comunicado onde constam duas perguntas feitas ao português, uma da moderadora, outra do jornalista do “The Guardian”, e as respectivas respostas. Tudo para mostrar o que “realmente” foi dito por Durão Barroso.
Para o “The Guardian”, a publicação da mensagem é uma negação, por parte da Comissão Europeia, de que há uma qualquer viragem no que diz respeito à austeridade. Uma dupla viragem.
O que foi dito
Os limites à austeridade, na óptica de Barroso, são visíveis em alguns aspectos, sublinha o comunicado. “Apesar de esta política estar fundamentalmente correcta, penso que alcançou os seus limites em muitos aspectos, porque uma política, para ser bem-sucedida, não pode ser apenas bem estruturada. Tem de ter um mínimo de apoio político e social”. Logo depois Durão Barroso afirma, como confirma o comunicado, que se está a “alcançar os limites das políticas actuais”.
“Do ponto de vista político e social, uma política que é vista apenas como austeridade não é obviamente sustentável. É por isso que precisamos de combinar a indispensável – e sublinho indispensável – correcção dos desequilíbrios das finanças públicas (...) com medidas para o crescimento apropriadas, incluindo medidas de curto prazo para o crescimento, porque algumas dessas reformas exigem tempo para produzir efeitos”
Apesar de adiantar que a Comissão não foi capaz de explicar a razão para implementar as políticas de austeridade orçamental, Barroso rejeita a simplificação da mensagem de que é necessário escolher entre austeridade e crescimento. “É completamente errado. Nós precisamos é de políticas orçamentais sólidas. Precisamos de reformas mais profundas para a competitividade e precisamos de investimento, nomeadamente com uma dimensão social”, conclui.
A reacção alemã
A nota com o que “realmente” foi dito por Barroso foi colocada num dia em que o porta-voz parlamentar do partido de Angela Merkel para as questões orçamentais, Norbert Barthle, afirmou que as declarações do português o “irritaram profundamente”.
“Um abandono do percurso rigoroso de consolidação orçamental na Europa seria um sinal fatal de que não estamos a ser verdadeiramente sérios quando falamos de reformar os nossos países”, disse o germânico citado pela agência Bloomberg.
O "senhor Barroso" no seu melhor! A plena confirmação do comentado ontem em "Idiota Útil"!
Rui Beja
Barroso: política de austeridade atingiu o limite
Presidente da Comissão diz que a Europa não soube “colectivamente” explicar aos cidadãos o que estava em jogo na resposta à crise, conforme notícia Lusa/Público Online de 22 de Abril de 2013
Barroso insurge-se contra “preconceitos” e garante que portugueses são “extremamente trabalhadores” GEORGES GOBET/AFP
A aplicação de medidas de austeridade é necessária para corrigir os desequilíbrios dos países, mas a política apenas centrada na redução do défice “atingiu os seus limites”, defendeu nesta segunda-feira o presidente da Comissão Europeia, citado pelo Expresso.
Durão Barroso considerou, em Bruxelas, que as políticas de austeridade não tiveram aceitação social, conduzindo a tensões na Europa. E "uma política que é apenas vista como austeridade é claro que não é sustentável", alertou, segundo o semanário.
Para o presidente do executivo comunitário, que falava num debate organizado por diversos think tanks (grupos de reflexão) sobre o estado da União Europeia, a grande falha da UE na resposta à crise foi precisamente não conseguir explicar aos cidadãos “o que estava em jogo”. “É aqui que acho que não fizemos tudo certo. Não fomos capazes, colectivamente – instituições europeias e estados-membros –, de explicar o que estava em jogo e construir o apoio necessário”, o que, assumiu, contribuiu também para que se desenvolvessem “preconceitos inaceitáveis”.
Barroso criticou os “preconceitos” que estão a emergir na Europa, afirmando que aqueles que pensam que os povos do Sul são “preguiçosos” estão enganados e que, por exemplo, “os portugueses são extremamente trabalhadores”. Um dos principais problemas de hoje, disse, é a polarização na Europa, “que está a ameaçar tornar-se o resultado final da crise”.
Segundo Durão Barroso, há a tendência, por parte dos cidadãos de alguns países, em simplificar a visão sobre outros países. Por um lado, nos países da periferia, há quem considere que “os problemas que têm não foram criados por si, mas por alguém, regra geral Berlim ou as instituições europeias ou o Fundo Monetário Internacional”, o que, disse, não corresponde à verdade. Pelo outro lado, sublinhou, há “a ideia que existe nos países do Centro, ou nos países mais prósperos, de que houve alguma espécie de inabilidade dos povos da periferia ou do Sul, de que alguns destes povos são, por definição, preguiçosos ou incompetentes”.
“Este é um problema profundo, que eu considero moralmente intolerável e inaceitável. Vindo eu próprio de um destes países, posso dizer-lhes que o povo português é extremamente trabalhador”, declarou.
O presidente da Comissão apontou ainda que “é verdade que há, de facto, diferentes níveis de produtividade e competitividade na Europa, mas nem todos estes problemas são devidos às qualidades dos povos ou das nações”, como o mostra a História. “Não é preciso recuar muito” para ver como as histórias de sucesso ou insucesso dos países mudam do ponto de vista económico, afirmou.
Quando George W. Bush precisou de encenar os preparativos para a Guerra no Iraque, arranjou um "idiota útil" que se prontificou a entrar no jogo e aceder a que se realizasse, nas Lajes, em 16 de Março de 2003, uma cimeira fantoche que só nos envergonha. Como prémio, o "dito cujo" teve o direito de "ficar na fotografia" e de mostrar aos interessados em mandar na Europa por interposto "boneco de plasticina" que estava ali a pessoa certa: quinze meses depois era presidente da Comissão Europeia.Tem cumprido à risca o "papel de embrulho" para o qual é pago a "peso de ouro".
José Manuel Durão Barroso diz o qe diz e também o seu contrário, conseguindo não se envergonhar, nem se rir. Sobre Potugal já disse que tínhamos de aguentar com a "austeridade cega" imposta pela troika, ou mais propriamente pela sua "patroa" Angela Merkel; porque esse era o "bom caminho" para os portugueses. Agora diz que já não é verdade, não porque estivesse errado no que dizia, mas porque "uma política que é apenas vista como austeridade é claro que não é sustentável". Quem lhe encomendou este novo "sermão" e que credibilidade tem? Isso faz parte do "segredo dos deuses", ou, melhor dito, da "estratégia dos demónios".
Por cá, aguentamos tudo isto sem nos inquietarmos, sem nos indignarmos, sem afirmarmos, alto e bom som, que os portugueses não são uns "frouxos" dispostos a "empobrecer alegremente" e que não se revêem no que diz e faz o "senhor Barroso". Onde tudo isto chegou! Extraordinário!
Rui Beja
New York Times: Remédio da austeridade está matar o doente europeu
Jornal diz que, além das medidas não estarem a resultar, há o risco de os países começarem a equacionar sair do euro, conforme notícia da Lusa publicada no Público Online de 15 de Abril de 2013
O que será ainda necessário para que a troika, os seus "patrões" alemães, e os seus "delegados" em Portugal (Vítor Gaspar e Passos Coelho. por esta ordem, exactamente!), entendam que chegou a hora de mudarem radicalmente de estratégia política ou darem lugar a outros? O que faltará para que o Presidente da República perceba que as instituições não estão a funcionar regularmente e exerça os deveres constitucionais que jurou cumprir? O New York Times não inova nesta apreciação evidente, junta-se simplesmente às múltiplas vozes autorizadas, incluindo o Nobel da Economia, Paul Krugman, que constatam o óbvio: parem com os disparates ou isto vai acabar mal; muito mal!
O Conselho Editorial do norte-americano New York Times escreve nesta segunda-feira que a "medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela zona euro.
"Há mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um cocktail de austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial do jornal norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados Unidos da América.
O artigo de opinião explica que o principal problema de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o Movimento Cinco Estrelas, em Itália.
"O verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e que os eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, já para não falar no resto do mundo", escreve o jornal, sublinhando que "se os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganharem força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficarão pior".
Numa parte dedicada exclusivamente a Portugal, o jornal escreve que "o Governo de Passos Coelho cortou a despesa e aumentou os impostos, tanto que o défice orçamental caiu cerca de um terço entre 2010 e 2012" e acrescenta que o resultado destas e de outras reformas é que o desemprego subiu para os 18%. Assim, "os economistas dizem que Portugal vai provavelmente ter um défice orçamental, este ano, maior que o acordado [com a troika] (...) porque as políticas nacionais, sem surpresa, causaram uma recessão mais profunda que o previsto".
O artigo defende, por isso, que líderes como a chanceler Angela Merkel parem de insistir na austeridade e "ajudem a aumentar a procura, por exemplo, permitindo que os países mais frágeis possam emitir dívida pública apoiada pela zona euro", o que, no entender deste Conselho Editorial composto por editores e antigos directores, e que responde directamente ao presidente do grupo detentor do New York Times, ajudaria os países a sair da "espiral recessiva".
"Os decisores políticos em Portugal e em Itália teriam a vida facilitada na defesa da necessidade de reformas se não tivessem de, ao mesmo tempo, cortar programas e apoios sociais", diz o texto, que argumenta que "um crescimento económico mais rápido e um desemprego mais baixo criariam os recursos que podiam ser usados, mais tarde, para cortar a dúvida e reduzir o défice".
Rui Beja